Via Semente - Uma viagem pelo mundo das JABUTICABEIRAS

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Como convidar as crianças dos tempos atuais a se divertirem muito por meio de um livro? Como propiciar aos adultos, as crianças mais maduras, a reviverem seus passados pelos sítios, pelos quintais das casas urbanas? Como? Como conseguir tudo isso através de páginas com textos e ilustrações? Através da LITERATURA?
A escritora e fonoaudióloga Marismar Borém, junto à ilustradora e Artista Gráfica Ana Cardoso conseguiram essa “façanha” por meio do livro infantil “Olhos de Jabuticaba”, da editora CORA.
Logo no início do enredo fica evidente a época em que tudo acontece. Década de 50. Ali a história da comunicação pode ser percebida antes da questão em si, que eram os “Olhos de Jabuticaba”. As crianças mais novas e até mesmo as mais maduras descobrem e redescobrem a função comunicativa do rádio e da televisão.
A menina proprietária dos olhinhos de jabuticaba começa a contar sua história e a explanar aquilo que mais lhe intrigou após as várias comparações de seus olhos com essa fruta doce que nasce nas jabuticabeiras. No momento em que os avós aparecem e que o contexto escolar é apresentado, é impossível não notar a sensibilidade e a importância da família, assim como do ato de aprender. Ao longo desses detalhes as ilustrações vão ganhando força e vão tornando todo o enredo, acessível àquelas crianças que não conseguem enxergar bem sem os seus óculos (crianças com baixa visão). Vale ressaltar que as citações de clássicos do Rock como Elvis Presley e Beatles e clássicos infantis como “Sítio do Pica Pau Amarelo” fazem com que o tempo se torne apenas um detalhe e que a infância pode sim ser considerada, perene!
Intrigada, portanto, com a metáfora que ouviu de várias pessoas (enfermeira, avós, professora), a personagem principal começa a relatar a sua busca pelo real significado de tudo aquilo. Tentou fazer isso nas aulas de Artes, nas retas e curvas das aulas de Geometria e até mesmo na observação de Maria que trabalhava em sua casa. “É tempo de jabuticaba, vamos ter a maior festa no interior de Minas Gerais...”. A narrativa vai mostrando aos poucos elementos importantíssimos da história na perspectiva da comunicação, da cultura musical e lúdica e até mesmo de algo que é típico no estado das Minas Gerais. São informações muito ricas que atravessam anos e que vão na contramão de todo um recurso tecnológico que por vezes veda as crianças de se interagirem com o meio, com as artes e com a subjetividade.
O ápice da história infantil começa com o convite que o pai recebeu para passar um fim de semana no sítio do patrão. A criança é informada de que iria conhecer a jabuticabeira e que ali, as suas dúvidas acerca daquelas comparações supramencionadas, seriam sanadas. A ilustradora Ana Cardoso entra em pura sintonia com os escritos de Marismar Borém e na página em que a criança se depara com as jabuticabas, é possível envolver-se com a sombra fresca, com a fragrância das frutas, com os sabores... E é possível também, reviver a tecnologia automotiva da época, o famoso e inesquecível fusca.
Luiza se delicia não apenas com as jabuticabas ou com a oportunidade em estar num ambiente totalmente diferente da cidade onde vive. Mas ela se descobre de uma forma especial a partir do momento em que vê os seus olhos multiplicados nos galhos de uma jabuticabeira.
Ao término da narrativa em primeira pessoa o valor da família é reforçado e a preciosidade das crianças manterem contato com o meio ambiente é salientada. “Olhos de Jabuticaba” é um instrumento que pode ser usado pelos papais para contarem de suas infâncias, pode ser usado para mostrar às crianças os recursos lúdicos de antigamente em contraste do que existe agora na tecnologia e pode ser uma ferramenta primordial que possibilite a leitura, o envolvimento com as cores e formas através das ilustrações, a interação com a família pelo simples ato de ler e até mesmo o aprendizado pela década que é apresentada sutilmente e pela receita que é inserida nas páginas finais e que propicia aos leitores o contato prático com o aroma, o sabor, a colheita e o preparo de uma das receitas que leva a fruta tão destacada.
Essa é uma história cheia de possibilidades, de novos aprendizados. “Olhos de Jabuticaba” pode ser usada como recurso terapêutico na fonoaudiologia. Fazendo com que a criança debilitada encontre o seu lugar na história e nas vivências mais valiosas que podem ser degustadas ainda que no século XXI. Sensibilidade, acessibilidade e dedicação podem ser percebidos ao longo de toda a leitura e novamente a editora CORA junto aos seus parceiros evidenciam que para uma infância feliz e cheia de novidades, basta uma boa leitura e adultos que saibam contar, recontar e que saibam persistir na tarefa de não deixar suas infâncias morrerem.

Lucas Teles, às 11h17min do dia 27 de março de 2017.

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