Estamos
solitários em vales cobertos de maldade. Somos torturados por senhores cruéis
que fisgam nossas esperanças. Não há luz, mas escuridão em nossos corações e o
solo que sentimos nos pés é seco e sem vigor. Árvores frutíferas falecem por
sede e o único líquido que prospera é o nosso próprio sangue após injúrias.
Somos testados todos os dias pela vida e seres que não estão prontos para amar.
Chove em nossas almas e nossos corpos entram em hipotermia inesperadamente.
Machucamo-nos sempre porque o masoquismo dialoga com esses vales. Pulamos de
precipícios terríveis com a intenção de fugir de nós mesmos. E nós morremos a
cada suspiro da falsidade. E nós perdemos fôlego a cada palavra mal dita e
entregue a nós quando os nossos olhos estão adormecidos. As duplas faces nos
rodeiam e nos ferem enquanto os vilões entranhados nas veias que nos pertencem,
não se manifestam.
Não
é novidade que a nossa sociedade enfrenta problemas para quebrar determinados protótipos.
O que tange tais dificuldades leva uma série de motivos dentre eles, o
religioso. A peça “Sozinho, junto com todo mundo” aborda uma temática que ainda
fundamenta críticas pesadas e a falta de aceitação de muitos. A
homossexualidade.
Os
integrantes do grupo Arteparc Teatral
conseguiram levar ao palco uma realidade compartilhada por diversas pessoas. O
obstáculo que surge ao dizer pra si mesmo, para a família, para os amigos e os
demais sobre a orientação sexual. Evidentemente, tal temática tem sido discutida
pacificamente, incluindo aí questões jurídicas a favor dos homossexuais.
Contudo, há um preconceito implícito e explícito que fere com a dignidade de
cidadãos que desejam viver tranquilamente um sentimento grandioso por uma
pessoa do mesmo sexo.
Criado
por Marcos Riby e com importantes intervenções (poéticas, instrumentais, danças
e depoimentos de outros participantes), o texto da peça chama o público para um
enredo emocionante, profundo, palpável e triste. Ao final é possível
levantar-se do banco com um entendimento esplêndido sobre o que os homossexuais
comumente enfrentam ao deixarem claro com quem gostariam de estar e se
relacionar.
Os
personagens para além de captarem a atenção da platéia, envolvem todos em um
cobertor de subjetividade mesclados a certa objetividade capaz de explanar um tema
tão comentado atualmente de maneira sutil e especial. “Sozinho, junto com todo
mundo” é um recorte da realidade levado para o movimento do ato cênico. Com o
diferencial de poder impressionar o público e tocá-lo sem agressividade, mas
com sentimentos!
Movidos
por uma sensibilidade singular e uma capacidade surpreendente de atuação, os
atores comovem e reforçam a importância do respeito aos homossexuais. A
abertura que o texto dá ao público ao final da peça com os depoimentos, mostra
a tentativa de dialogar com todos os que presenciam a peça. Sendo adeptos ou
não aos homossexuais, “Sozinho, junto com todo mundo” tem como intuito dar voz
e não retirar essa voz. Todos podem e devem pensar individualmente, mas o que é
salientado em toda a história é o entendimento de que homossexuais são
indivíduos como quaisquer outros. São pessoas que carregam seus contextos
históricos e que também lutam por uma caminhada mais honrada.
Diante
da qualidade cênica, a criatividade, a flexibilidade de todos os que
contribuíram direta e indiretamente para a ascensão da peça “Sozinho, junto com
todo mundo” nos palcos, é impossível não indicar. É válido o desejo de assistir
esta fatia delicada da realidade incorporada por pessoas que encaram o teatro
com seriedade e como parte de suas próprias vidas.
Por
Lucas Teles, às 13h17min do dia 14 de agosto de 2012