Via 2020 - SUFFIRE

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A vontade que dá é escrever o máximo possível do que rolou neste ano tão imprevisível. Você se viu lá no início dele com alguns planos muito bem arquitetados. Vamos fazer viagens todo mês, vamos dar continuidade e caminhar para o fim do percurso no mestrado, vamos participar de vários eventos científicos, vamos viver e brindar a vida.

De fato, muito disso aconteceu. Algumas viagens, com direito a reencontros preciosos, a defesa da dissertação de mestrado, que lhe rendeu bons frutos, a participação nos eventos científicos. Mas muito brevemente a vida fez questão de verbalizar o seguinte. 2020 não foi um ano imprevisível. Pois eu sou imprevisível!

A pandemia trouxe ao mundo muitas reflexões, vivências, ressignificações. As pessoas aceitando isso ou não, elas precisaram encontrar um modo diferente do existir. Já não dava e não daria mais para ser o que se estava sendo simplesmente. Houve perdas, houve frustrações, houve tristezas, houve desabafos, houve explosões internas, decepções... Muitas coisas!

E ainda que tudo estivesse ali, desabando, você foi tendo a capacidade de perceber as conquistas, a preciosidade do que é simples, a gratidão não por um ano que foi lindo. Porque não foi. Mas a gratidão pela experiência, pelo aprendizado que ficou e que jamais será perdido.

Da vontade de explicitar o que superei e o que conquistei. Porque olha, quem sobreviveu a esse 2020 está mesmo de parabéns. Mas Clarice Lispector disse e com isso eu acabei optando por calar-me:

- Há um grande silêncio dentro de mim. E esse silencio tem sido a fonte de minhas palavras. E do silêncio tem vindo o que é mais precioso que tudo: o próprio silêncio.

Chegamos nesse mundo fazendo tudo errado. E o que poderia sem mais fácil, acaba sendo um grande desafio. A gente não sabe lidar com o silêncio. Com a coisa de ficar por vezes mais introspectivo assimilando com mais calma o que vencemos, o que perdemos, alegrias e as lágrimas também.

Acredito que 2020 foi sobre isso na minha existência. Sobre conversar comigo mesmo absolutamente sobre tudo. Eu fui privilegiado, eu tive alimento, eu tive uma casa, eu tive pessoas que amo (apesar de algumas perdas), eu tive tudo (talvez). Mas não é preciso jogar isso ao universo para tentar encontrar respostas.

Vai-se o ano onde um turbilhão de coisas aconteceu. Vai-se um ano em que precisamos parar para pensar sobre determinados aspectos sozinhos. Sem nenhuma intervenção externa. Vai-se um ano de tomada de decisões para o futuro que já está acontecendo.

Coincidentemente o ano em que "trintei". Coincidentemente o ano em que eu decidi o seguinte. Eu quero morar em mim mesmo, eu quero me encontrar e aí sim eu quero me dispor ao mundo lá fora. E onde quer que eu esteja, aqui ou do outro lado do oceano, eu quero fazer valer isso em todo instante na minha trajetória.

Leitor, eu não quero para você saúde, amor, paz, dinheiro, amizades etc etc. Estamos falando do ano de 2020! Eu desejo a você, eu desejo aos meus pares, eu desejo ao Lucas, força. A força interna necessária para lidar com a imprevisibilidade da vida. Este é um desejo sincero do meu coração e é o que eu acredito ser o suficiente.

Não temos boas perspectivas diante do caos mundial que vem se instalando e se intensificando. E é justamente por isso que precisamos nos alimentar de força! Leia bons livros, ouça boas músicas, abandone relações que já não lhe trazem mais benefícios, se permita a outras novas formas de se relacionar, se ame, beba, coma, viaje para dentro de si, para outros lugares (vem vacina!), viva! Tente existir mesmo só sobrevivendo nesse mundo louco.

Nós conseguimos chegar até aqui. Vamos caminhar até onde for possível exalando e captando apenas as essências.

Suffire!

 

Lucas, 31 de dezembro de 2020, às 14:34.

 



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