O parque estava
tomado por chuva. A forte ventania despedaçava as flores mais intensas que ali,
residiam. O frio preenchia todos os espaços e as nuvens transformaram-se em
algodões negros. Sobrecarregado estava o dia e a tristeza me invadia.
Eu estava sobre um dos galhos mais altos da árvore mais
torta do parque. Não me importava o
fato de estar molhado e com todas as minhas obrigações jogadas no quarto. Minha
tristeza escorria. Despencavam dos meus olhos inconformadas gotículas cristalinas
que exprimiam incertezas. O que fazer?
Para além de um
cenário chuvoso, o dia converteu-se em um início fúnebre de noite e a sensação
de estar só permanecia embutida em cada batimento cardíaco.
Minha respiração
não funcionava bem. O plano de cessar minhas insatisfações subindo ao Topo do
Mundo e deixando o meu coração, não, de longe não iria funcionar. Mas o fiz...
Mesmo sentindo todas aquelas feridas abertas e querendo no mais profundo do meu
ser não ter recorrido a nenhuma atitude.
A madrugada
pairou sobre o parque e num efêmero e acidental sono, caí do galho feito manga
podre. Não havia em mim resquícios de felicidade. Só desespero. Eu estava só.
Um motor
anunciou sua presença e enquanto eu ainda permanecia exausto e sem forças, ele
corria pelo parque a minha procura. Pouco a pouco o dia foi ganhando espaço e a
chuva perdia sua intensidade para um momento não previsto.
Reanimou-me,
olhou-me. Levantei-me assustado e ficamos frente a frente enquanto pétalas
roxas e vívidas pareciam renascer ao nosso redor. Aqueles corações de outrora
pulavam confusos. De modo penetrante nossos olhares anulavam qualquer palavra.
Beijamo-nos.
Um súbito calor
parecia ter a potência de uma borracha sobre um papel onde errôneas escrituras
insistiam permanecer intactas. Nada mais eficaz que um abraço. Um aperto e um
toque que não podem ser substituídos.
Uma flor fora
retirada de sua condição simplória de enfeite e, num gesto de carinho e afeto,
foi-me entregue junto a poesia salvadora. Outros abraços surgiram e a aproximação
dos nossos lábios era um grito, um pedido de retorno.
Sem chuva, sem
trovões. O parque precisava de calor e luz. Não seria o sol, o causador de tudo
o que faltara. Mas um só amor.
Sentamo-nos.
Olhamo-nos. O resto do dia já não importava mais e tampouco os fatores
externos. Eu fui até lá e, no Topo do Mundo, peguei meu coração de volta.
Lucas Teles, às 13:50 do dia 08 de abril de 2014.