Via Semente- Corações (parte II)

13:17


O parque estava tomado por chuva. A forte ventania despedaçava as flores mais intensas que ali, residiam. O frio preenchia todos os espaços e as nuvens transformaram-se em algodões negros. Sobrecarregado estava o dia e a tristeza me invadia.

Eu estava sobre um dos galhos mais altos da árvore mais torta do parque.  Não me importava o fato de estar molhado e com todas as minhas obrigações jogadas no quarto. Minha tristeza escorria. Despencavam dos meus olhos inconformadas gotículas cristalinas que exprimiam incertezas. O que fazer?

Para além de um cenário chuvoso, o dia converteu-se em um início fúnebre de noite e a sensação de estar só permanecia embutida em cada batimento cardíaco.
Minha respiração não funcionava bem. O plano de cessar minhas insatisfações subindo ao Topo do Mundo e deixando o meu coração, não, de longe não iria funcionar. Mas o fiz... Mesmo sentindo todas aquelas feridas abertas e querendo no mais profundo do meu ser não ter recorrido a nenhuma atitude.

A madrugada pairou sobre o parque e num efêmero e acidental sono, caí do galho feito manga podre. Não havia em mim resquícios de felicidade. Só desespero. Eu estava só.
Um motor anunciou sua presença e enquanto eu ainda permanecia exausto e sem forças, ele corria pelo parque a minha procura. Pouco a pouco o dia foi ganhando espaço e a chuva perdia sua intensidade para um momento não previsto.

Reanimou-me, olhou-me. Levantei-me assustado e ficamos frente a frente enquanto pétalas roxas e vívidas pareciam renascer ao nosso redor. Aqueles corações de outrora pulavam confusos. De modo penetrante nossos olhares anulavam qualquer palavra. Beijamo-nos.
Um súbito calor parecia ter a potência de uma borracha sobre um papel onde errôneas escrituras insistiam permanecer intactas. Nada mais eficaz que um abraço. Um aperto e um toque que não podem ser substituídos.
Uma flor fora retirada de sua condição simplória de enfeite e, num gesto de carinho e afeto, foi-me entregue junto a poesia salvadora. Outros abraços surgiram e a aproximação dos nossos lábios era um grito, um pedido de retorno.

Sem chuva, sem trovões. O parque precisava de calor e luz. Não seria o sol, o causador de tudo o que faltara. Mas um só amor.

Sentamo-nos. Olhamo-nos. O resto do dia já não importava mais e tampouco os fatores externos. Eu fui até lá e, no Topo do Mundo, peguei meu coração de volta.

Lucas Teles, às 13:50 do dia 08 de abril de 2014.

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