Via Semente - Os meus escritos

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Os meus escritos

Em minha família, alguns primos dominam as paletas das baterias e expressam suas sensações em melodias ensurdecedoras e contagiosas. Há também uma prima que, às vezes delicada se dedica totalmente à arte de tocar teclado. Suas notas acompanham a sua própria voz que, além do instrumento, dá riqueza à canção.
Outros, ainda mais ousados, manobram os cordões de suas guitarras e provocam corpos distintos a sentirem a mesma sintonia, e não posso deixar de mencionar a aptidão musical de minha irmã que, simplesmente sozinha, sempre tocou e toca seu violão e também guitarra de maneira singular e especial. Cada um demonstra seu talento e estes destaques na família são então privilegiados. São perceptíveis. Todos capturam o teclado de Laysla, as batidas de David e Carlinhos, as referências no rock ao som da guitarra de Rafael e Wilkerson, todos sentem os leves toques de Clarissa em seu violão negro e demasiadamente belo.
Mas e os meus escritos? A minha voz cessou e o verbo cantar já não faz parte da minha rotina, não tenho o domínio em nenhum dos instrumentos citados e já me senti incapaz por isso. Mas os meus escritos, eu novamente pergunto? E os meus escritos? Eu não uso paletas para gritar ao mundo as minhas decepções e sonhar que tudo possa melhorar, mas tenho em mãos os lápis que, deslizando nos papéis, me deixam mais tranqüilos.
Eu não consigo promover movimentos sobre o teclado, mas os faço nos cadernos em branco, e ali vou tecendo uma arte diferenciada, com toques de minha personalidade e dos meus pseudônimos. Eu não tenho a exata aptidão em um belo violão, mas a leitura dos meus escritos pós produção fazem o meu coração se rechear de alegria...
Então eu pergunto... Quem vê os meus escritos e os sente da mesma forma? Quem percebe este talento oculto em mime silencioso que produz com a mesma intensidade, valores imensuráveis. Quem dessa família já me cercou para ouvir não o teclado de Laysla, nem a guitarra de Rafael, mas para ouvir aquele poema de fim de ano? Quem? Quem está disposto a deixar penetrar no coração a preciosidade da literatura e suas mensagens mais essenciais. Quem conhece os cânones da Literatura Brasileira e consegue os relacionar comigo? Com aquilo que tenho produzido?
Quem são vocês familiares que tomados por dons abençoados não conseguem ver os meus escritos? Não os compreende. Não os aceita. Os meus escritos, ainda que eu os direcione para o “vazio”, são sempre construídos para um outro alguém, um outro olhar. Muitos podem se sentir melhor, se identificar com aquilo que um dia, resolvi transcrever para o papel depois de viver inexplicavelmente alguma situação.
Os meus escritos não serão JAMAIS melhores que as paletas, os cordões e as vozes, mas, serão piores? Desprezíveis? Quem não repara essa arte que corre em minha veia entra em uma contradição no que concerne a cultura, a arte, a vida.
Sem mais, os meus escritos querem ver vocês, querem ajudá-los. Os meus escritos querem transcender as gavetas do meu guarda-roupa, as paredes do meu quarto, desejam calorosamente transcender os papéis reaproveitados em que são inseridos.
Os meus escritos falam comigo quando terminados. E eu sei que toda essa vontade, é verídica.
Os meus escritos...

14h13min – 31 de outubro de 2011
Lucas Teles

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