Via Semente - AMIZADE, por Lucas Teles e Cecília Saraiva

10:39


Naquele instante não havia tarefa mais árdua que deixar o carro, desligar o motor, abrir a porta e encarar o mundo!

Suas aflições, seus estresses acumulados acometiam sua paz, sua tranqüilidade, seu condicionamento físico. Quando saiu de onde estava, seu caminhar era pausado, acontecia lentamente e seus olhares vagavam desesperados para todos os cantos, na tentativa de encontrar soluções prontas para aquilo que só aconteceria posteriormente. Ansiedade, desespero. Um tropeço e uma vontade súbita de gritar, de chorar, de desobstruir o coração de tamanha depressão.

Os papéis largados no chão e uma ação recheada de candura ao sentar-se e por ali ficar. Ela e os seus trabalhos. Ela e sua vida monótona.


 Todos os percursos que fazia eram cercados de pensamentos exagerados e conflituosos. Pensamentos e sentimentos que não conseguiam entrar em sintonia e que percorriam não só a sua alma por inteira, como percorriam seu corpo fisiologicamente falando. Os reflexos disso explanavam um rosto cansado, uma feição frustrada, uma fraqueza dominante. E ali não estava sendo diferente. Olhava para as imagens à sua volta tentando calcular os mistérios incalculáveis de um relacionamento afetivo. Procurando pra si a resposta exata do amar junto ao odiar, o desejo de quebrar todas as muralhas e o outro desejo de deixá-las conquistarem seu espaço e reverter todo um trajeto com suas próprias mãos. Como se fosse o deus do próprio destino.

Escorou, inspirou e expirou perceptivelmente e nadou no mar de suas lágrimas que desciam involuntariamente e fortemente de seus olhos.

Parou de tocar seu violão e resolveu sentir seu coração bater. Permitiu se ignorar seu câncer e só passou a reparar todo o próprio corpo vivendo. Recebendo sangue, sendo oxigenado, recebendo nutrientes e tendo todas as suas funções estabilizadas. Ali, naquele momento, apesar do câncer. Apesar das metástases fúnebres que perturbavam seus sonhos todas as noites. Ela estava ali, prestes a dar o próximo passo com o seu violão. Mas largou o canto, largou a poesia, largou também seu receio de perder a vida e quis sentir a brisa envolver seu corpo.



Como se estivessem próximos um do outro, olharam-se. Uma deixou seus papeis onde estavam e quis correr para acelerar seu encontro. O outro quis calar o coração e desativar seu hipocampo para parar de recordar-se de quem o feriu e estava o ferindo todos os dias. A outra abriu os olhos suavemente, pegou seu violão e começou a caminhar com passos largos e com uma só certeza, o encontro!

O piquenique iniciou-se após um abraço gigante que pôde invadir todo o bosque. Rodeou o céus e o gramado vívido e esverdeado. Os três sorrindo porque há tempos não se viam. Porque há tempos, desde a universidade, não olhavam, não se amavam e não sabiam o que estava acontecendo um com o outro. A amizade invadiu as três almas naquele bosque. Suas profissões ficaram do lado de fora, seus estresse, desamores e doenças perderam a voz. E naquele dia, frutos, vento, sol e amor, protagonizaram o dia de cada um deles.




E por detrás de uma potente câmera fotográfica, um personagem vivo e encantador entrou em cena. Deixou se guiar pelo piquenique cênico e também, assim como seus personagens, seus objetos de trabalho, permitiu se sorrir. Sorriu feito criança. Os abraçou! Olhou para todos os cantos e conseguiu se desprender de suas agonias. Todos, ali, onde estavam, só deixaram florescer, a dádiva da AMIZADE.



Lucas Teles, às 16:58 do dia 25 de junho de 2014.
TEXTO: AMIZADE

Cecília Saraiva, 23 anos, Graduanda em Recursos Humanos pela Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG) e poeta fotográfica.

“O curso de fotografia saiu como válvula de escape no meio disso tudo... E eu precisava fazer algo que gostava para ficar bem.”

O Parque Ecológico da Pampulha foi o cenário das fotografias produzidas por SARAIVA. As fotos foram extraídas da poesia AMIZADE (Lucas Teles). Este trabalho unifica duas formas belas e surpreendentes de subjetividade. Uma dose de palavras que saem dos papéis após serem cicatrizadas por um lápis qualquer e, uma dose de fotografias que reproduzem o escrito para tocar o outro.

Contatos (facebook): Lucas Massafera & Cecília Saraiva.Modelos: Larissa Brito & Patrícia Moretti.


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