Via Semente - O caminho inverso ao de Pedro Álvares Cabral, "Terra à Vista!"
07:13
EU DESCOBRI PORTUGAL
Há
um tempo atrás deixei o meu país, entrei em um avião enorme e bati as asas que
eu não acreditava ter. Voei sem parar até repousar no país que tanto ouvimos
falar nas aulas de história. Pisei na capital Lisboeta. Senti-me um bebê
procurando desesperadamente o seio materno. As pessoas irritadiças assustaram-me.
A cia que até então estava agradável, confundiu-me. Entrei em pânico a caminho
da terra Algarveana.
Mas
dei conta. Pisei em Faro e comecei a crescer como pessoa. Os primeiros dias na
universidade me desanimavam. Aquele processo inteiro de escolha das disciplinas
repetiu-se e muito apressadamente precisei escolher aquilo que eu iria estudar.
Pois bem, assim o fiz. Iniciei minhas quatro disciplinas na área da
comunicação. Com esperança, eu estipulei a meta de alcançar um aprendizado irreverente
que infelizmente não está inserido na pressão toda da FONO UFMG. Lá somos
ciência, corpo humano, patologias e reabilitação o tempo inteiro. Há exceções,
mas em sua maioria, é isso mesmo!
Com
o passar dos dias comecei a procurar alternativas melhores para viver bem
diante daquelas pessoas que rejeitam nossas companhias, sabe? E na verdade eu
mal sabia que iria fazer isso até praticamente o último mês da minha estadia
nas terras portuguesas. Mas vamos lá, vamos tentar descrever primeiramente a
experiência acadêmica. Pois bem, legal, inédita em alguns tópicos, mas não
inovadora o suficiente. Engraçado, né? Afinal de contas estamos aqui “a falar
de Europa”. E afinal de contas somos BRASILEIROS. Mas é isso. Toda a bagagem
que tive acesso na minha terrinha não foi superada por nenhuma matéria que aqui
cursei. Não as dispenso, evidentemente. Mas as coloco como complementos. A Expressão
Verbal eu havia visto com muitíssima consistência na minha estadia no curso de
Letras da faculdade particular, no curso de Educação do Campo da UFMG e de
certa forma nas disciplinas de linguagem da Fonoaudiologia. A Psicologia da
Comunicação e o Marketing foram sim conteúdos que os meus olhos passaram a
conhecer, mas a metodologia não me fez mexer muito na cadeira. Sequer elas me
ofereceram doses gratuitas de preocupação, crises de ansiedade e aquele frio na
barriga sobre a possibilidade de passar ou não. Não estou aqui desmerecendo
nada, mas acho válido a gente ressaltar que o estudo no exterior não é tão
evoluído assim como muitos arrotam. Pelo menos o de Portugal, ok?
Pude
observar centenas de brasileiros de sucesso fazendo seus intercâmbios, morando
na Europa para cursarem TODA A GRADUAÇÃO, trabalhando... Pude ver brasileiros
que dominam o inglês super bem assim como outras línguas um tanto DESAFIADORAS.
Eu vi, e não somente por uma questão socioeconômica favorecida, mas vi brasileiros
se superando por aqui e mostrando que gostam não só das promoções low cost, mas também amam o trabalho.
Dedicam-se porque sabem que lá na terrinha natal, as coisas são bem mais
tensas. E como são tensas, não? O ano que se passou foi tenebroso e fez questão
de mostrar que para os próximos trajetos a serem percorridos, tudo pode piorar
ainda mais. O que fazer? Lutar, lutar e orar.
Nos
cenários por onde passei vi azulejos maravilhosos que mostraram-me muito da
história portuguesa, estilo e estética. Vi e inclusive abordei em um trabalho,
a maravilhosa diferença na oralidade. A língua portuguesa falada no Brasil é realmente
outra na Europa. Mas descobrir que ambas eclodiram de uma mesma base linguística
nos faz ter embasamento e perspicácia para não aceitarmos a xenofobia que vem
maquiada. Que vem com um nude nos lábios, que vem digitada nos aplicativos de
relacionamentos afetivos, que vem nas ministrações de conteúdos nas salas de
aulas, que vem na compra de um simples pastel de nata no “bar”, o que para nós
seria um restaurante. Sim, os portugueses, muitos deles, são afetuosos, mas boa
parte também nos menciona como o país da prostituição e da imoralidade.
Convenhamos, quais foram as reais contribuições de Portugal para o nosso Brasil
verde e amarelo anos e anos atrás? Pois bem, vale a reflexão sobre o “descobrimento”.
E ah, professora que não é portuguesa, mas que em sua fala fazia muita questão
em expressar isso. Os índios trabalhavam sim. Não podemos confundir ataques à
saúde mental, à saúde física e à saúde cultural como um todo com “preguiça”.
Faça-me o favor, viu? Vamos colocar nossos doutoramentos em prática não apenas
a nível acadêmico, mas a nível SOCIAL.
Ainda
com todas essas observações, não podemos deixar de lado os pontos positivos e
que devem ser endossados. Aqui o ensino primário e secundário prepara realmente
os seus alunos para uma segunda língua. Sim, eles comumente falam o inglês sem
que você encontre espalhadas pela cidade, inúmeras escolas de idiomas com seus
preços nada tentadores. Aqui o euro nos faz executar nossa sabedoria na exatas
a todo instante. Se temos uma quantia em reais dividimos por quatro (o valo
arredondado de quanto está o euro em real) e aí conseguimos saber o quanto
temos em euro. Se queremos comprar algo em oferta, faz bem multiplicar por
quatro pra realmente ver se aquilo vale a pena. Pois bem, muita coisa nos
mercados e até lojas de vestuário, eletrodomésticos entre outros, são bons para
serem comprados por aqui, mas determinados produtos, meu amigx, são mesmo muito
caros!
E
essas cidades portuguesas tão diferentes umas das outras? Começando pelas
praias do Algarve, que maravilha! Um sonho para qualquer mineiro que ama e que
adora passar uma semaninha que seja na praia. De repente você se vê respirando ares
de cultura e de emoção pela cidade do Porto, aquela que foi fortemente um
veículo de inspiração para aqueles livros do bruxinho Harry Potter que tanto
líamos na nossa adolescência. Rowling não se inspirou apenas nas vestimentas dos
alunos das universidades, como também teve um contexto importante de sua vida
em Portugal. Incrível, não? Não posso deixar de lado as cidades quase que
interioranas que mostraram-se sim bem “aportuguesadas”, mas com estilos muito
próprios. Braga, Évora, Covilhã. Cada pedacinho com seu encanto e sua
peculiaridade. Essas viagens por Portugal vão nos preenchendo e se materializam
num processo terapêutico constante. Vejam bem, viver “cá” fora dá trabalho pro
coração. Temos nossas companhias, mas por vezes, aliás, por muitas vezes elas
não nos bastam. Nada melhor do que ver nossos bichinhos de estimação pelo visor
do celular, nada mais importante do que nos depararmos com mensagens de afeto
dos nossos pais, irmãos e amigos. A ilusão de que “não vou viver com
brasileiros em terras estrangeiras”. Pelo menos em Portugal, ela se esvai. Te
garanto! Agora se for diferente com alguém, tenham a certeza de que aconteceu com
muita luta. Neste momento Portugal é um país dentro das salas de aula que se vê
fechado para novas relações interpessoais. Sobretudo com a galera que diz “você”
em vez do “tu”, não é mesmo?
Eu
nunca imaginei que iria sentir falta de sentar em qualquer lugar público que
fosse sem ter que tossir. Sim, sem ter que ser um fumante passivo “super hiper”.
Aqui fuma-se desde novinho e muito. Sempre! Em todos os lugares! Ok, em terras
brasileiras existem maços de cigarro, claro, mas comparando minha BH com os
lugares onde passei aqui em Portugal, meu Jesus, acho que meu pulmão deve estar
bem parecido com aquele que vi na minha primeira aula de anatomia no Instituto
de Ciências Biológicas (ICB). Pretinho, beeeeeem pretinho mesmo.
Aqui
vi tantos idosos que foi tarefa dificílima não lembrar dos meus avós. A
população está bem velhinha e isso faz com que as autoridades queiram facilitar
o processo de chegada de estrangeiros como (vejam bem a ironia do destino) os
brasileiros. Portugal fez-me executar tudo o que aprendi morando fora durante
dois anos. Porém, com uma maturidade muito maior. Eu precisei cuidar de mim
mesmo a todo instante. Precisei ser o meu amigo fiel, a controlar os meus
gastos como ninguém, a colocar as minhas roupas pra lavar e ficar vigiando o
tempo pelo celular, eu tive que me desdobrar pra acordar cedo e apanhar do
sistema de chuveiro deles que gasta muito mais água que o nosso e que
infelizmente funciona a gás. Aqui o gás é caríssimo. E ao convertermos pra nossa
moeda local, a gente quase cai pra trás. Portugal me ensinou a ser um Lucas
mais forte, Portugal me apresentou realidades da vida que quando ficamos apenas
na nossa zona de conforto, no caso o nosso país, não temos acesso. Portugal me
mostrou que sonhar realmente vale a pena, pois poxa, foi a minha primeira
grande experiência internacional e partir dela eu pude desbravar em passeios
maravilhosos, outras terras estrangeiras. Portugal fez-me um novo homem, um
novo estudante, um novo viajante. Nós podemos, somos capazes e tudo é possível.
Nada do que uma tabela com as trips agendadas não resolva. Estar aqui foi e tem
sido um constante processo de auto controle em todas as “atmosferas”. A social,
emocional, acadêmica etc.
A
gente tenta fazer um compilado e expressar o que passamos por aqui. Muito provavelmente
alguns elementos não serão pontuados. Mas vocês sabem, o hipocampo é uma coisa
que realmente vai deixando de funcionar bem com o passar dos anos. Eu não sei
bem como voltarei para o meu Brasil, mas sem sombra de dúvidas sei que as malas
que levarei daqui com um peso muito maior que os trinta e dois kilos permitidos
pela companhia aérea, elas me farão uma pessoa muito mais sóbria em vários
aspectos. Essas bagagens irão me proporcionar a continuidade das metas já
iniciadas e à estipulação de outras inúmeras que não acontecerão apenas porque
somos movidos a novos sonhos, mas porque elas irão me transformar
continuamente. Pois nada nessa vida é mais valioso, gratificante,
surpreendente, inspirador e desafiador, do que MUDAR.
Acho
que é isso. Grato pelo abraço, muito embora tenhamos tido os nossos conflitos,
Faro, cidades portuguesas, Portugal. Um muito obrigado, sim?
Lucas Teles, 03 de janeiro de 2017, às 15:52.
O local das fotos é a Serra da Estrela, onde muitos turistas vão para conhecer a neve. Fica bem próximo à cidade de Covilhã, onde passei o natal com as amigas do Sul e a amiga de Sampa.
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