Abaixo do esplênio do corpo caloso – Ele e o Hipocampo

19:47

"O problema dos vícios é que nunca acabam bem. Mais cedo ou mais tarde, aquilo que nos deixava feliz, deixa de ser bom e começa a fazer estragos. Dizem também que a gente não larga o vício enquanto não chegamos ao fundo do poço. Mas quando sabemos quando chegamos lá? Não importa o quanto o vício nos faz estragos. Às vezes..."

Grey's Anatomy


Tenho dificuldade em me expressar. Prefiro resolver as coisas dentro de mim do que me expor de alguma maneira.
Recorro ao silêncio quando há qualquer tentativa de diálogo. Fujo desses diálogos proferindo curtas frases e até dizendo algo de que não vão gostar de ouvir.
Tento até soltar alguma coisa, mas as palavras são um produto de alto teor pra mim. Sou crítico. Minhas opiniões mudam e minha boca diz, muitas vezes, o que não acho. Direciono meu olhar para tudo e guardo meus pensamentos sobre situações, sobre pessoas, inclusive as que afirmo amar.  E podem ser maus pensamentos.
Sou resistente, sou firme, rígido. Não abdico por nada e me imponho o máximo que eu puder. Não posso cogitar a hipótese de pedir perdão ou de afirmar que está tudo errado. Tô sempre preparado e tenho mais acertos do que erros.
Meu humor é bipolar. Sou educado e afetuoso em relações superficiais, com meus íntimos posso me aliviar dando a eles o meu desprezo, meu silêncio ou mesmo meus gritos, minha grosseria em frases que laceram. O mundo lá fora me conhece como bom moço. Mas os de dentro conhecem o monstro que consigo ser.
Não penso muito sobre ter uma propriedade, um lar sem antes trocar esse veículo. Este é o que mais me estimula. Se preciso andar alguns poucos metros, recorro ao carro de quatro portas que fiz de tudo para comprar e encaixá-lo à bolsa de um curso simples em uma universidade.
O mundo sou eu e o carro.
Dependo muito de minha família e por vezes não consigo me escapar dela. Isso não quer dizer que a valorizo como deveria. Vou usando os cartões, determino as necessidades e os demais imaginam que sou bem de vida. Meus pais fazem parte do nível socioeconômico que não tem medo do trabalho e que não tiveram um terço do que tenho hoje. Mas essa minha consciência nem sempre sobrevive.
Tenho facilidade em me penetrar e me entregar a contatos aleatórios no mundo virtual. Vez ou outra saí para dançar e prolonguei isso em conversas picantes no computador e nunca saí do estado de MG.
Sempre estive aqui. Raramente faço algo inesperado. Sou sensível no começo, talvez quando se tem algum interesse. Mas depois só sei dizer que está tudo bem.
Não tenho compaixão. Procuro me redimir mecanicamente falando para não perder. Isso, NUNCA!
Apresento opiniões, mas não me abro para elas. Não vejo meus defeitos, eu os camuflo. Elevo minha voz facilmente e encerro rapidamente um assunto quando não quero mais falar. Falar pra mim não tem valor.
Ouço as mesmas músicas. Não leio nada. Não assisto nada além do popular. Não escrevo. Não tenho apreço por estudos. Sou prático e objetivo. Penso em posições melhores, mas não na labuta, não sou bobo.
À minha volta, familiares possuem o mínimo que não tenho, mas convivo bem com isso porque é agradável no meio da roda dizer quem são meus primos e tios bem sucedidos.
Tenho poucos contatos pessoais do tipo poesia e alguns, dos poucos, me incitam a ser o pior do que sou, uma dose a mais.
Me apresento como algo em que muitos desprezariam, mas não procuro mudar.
Em poucos períodos de tempo sou caloroso. É notável que nunca me entrego.
Sou fraco, na verdade, sou carente. Carrego mágoas, tristezas. Queria algo melhor, queria poder ser melhor, mas não consigo. É mais prático ser nocivo às pessoas. Agir com as minhas próprias regras sem sequer ceder.
Alguém que me ama muito já sabe tudo o que aqui escrevi e, por amor, empurrou isso, essa de namoro, empurrou com a barriga há meses toda uma história. E esse alguém, eu não o amo como antes, mas por comodismo, eu quis ficar. O comodismo é algo intermitente em mim. É provável que eu vá sentir falta desse amor, de toda intimidade construída, que este, quem me ama, estiver em outra página.
Entretanto, no momento, eu não me importo com ele, com a minha família, e, nem mesmo, comigo mesmo.


Às 01h14min do dia 04 de janeiro de 2014

Autoria: Semente do que ainda virá

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