Depois dos trinta - Via Semente
20:10
Nesta semana deparei-me com um blog
intitulado “Depois dos quinze”. Hoje tive a oportunidade de refletir com uma
amiga amante da Terapia Ocupacional, sobre a crise dos 30 aninhos de idade.
Assustei-me de início com a tarefa de
pensar sobre essa faixa etária sob várias perspectivas. Cara, como é difícil!
Vou explicar ao longo deste texto o motivo, graças ao apoio dessa minha amiga,
futura brilhante profissional da T.O.
Existe uma nação de adolescentes
advindas de classes socioeconômicas favoráveis que abordam sobre intercâmbios
antes de chegarem à juventude, falam sobre uma moda refinada e sempre
atualizada, comentam sobre pratos exóticos e demonstram facilidades em todas as
suas relações interpessoais. O meio feminino é mais intensificado neste
quesito.
Os meninos costumam envolver-se com
esportes prematuramente e conciliam com destreza suas atividades cognitivas com
festas, namoros e jogos japoneses.
Nesse caminho fica fácil delimitar o
que fazer ao longo da vida, principalmente após os vinte anos de idade, em que
certas pretensões aparecem com intensidade. Deixar o colegial aos 17, no máximo
aos 18, dar a largada de um curso superior. Concluí-lo aos 21 e no meio disso
tudo, ter conhecido pelo menos quatro países distintos. Evidentemente que pelo
menos dois idiomas já teriam sido internalizados durante a infância e
consolidados ainda na adolescência.
Aos 28 ter fechado o ciclo acadêmico
com vigor podendo auto titular-se mestre e doutor em alguma ciência. Ter
encontrado o amor, casado e constituído uma família com um prazo máximo de
trinta anos de idade. E por fim, deu-se a vida. Findada todas as missões e o
corpo está pronto para envelhecer-se e o espírito mais que preparado para
afirmar que tudo foi feito. A senescência encarrega-se de acontecer com muitos
hobbies, mais alguns países experimentados e livros a serem publicados
relatando tudinho. Tim TIM, por TIM TIM.
Como enquadrar-se a um mapa conceitual
tão bem elaborado sem considerar as variantes? Quem geralmente compõe essas
perspectivas alcançadas a não serem aqueles que degustaram berços de ouro desde
a tenra infância, ou aqueles que sempre receberam apoios indiretos e tiveram
subsídios para viver todo o supracitado script antes dos trinta anos de idade?
Aceitar essas descrições criadas por nossa sociedade tão “crua” é deixar de
viver e sugere uma intensificação da crise da meia idade.
Essa fase da vida foi abordada por
Jaques em 1965 e nela nosso corpo abriga diversas alterações biológicas
esperadas e questões psicossociais importantes que encontram-se no topo da
pirâmide junto ao conflituoso e sempre inédito sistema límbico. Aquele em que a
neuroanatomia define como sede de nossas emoções. Nossas reflexões, nossos
próprios achados sobre aquilo que vivemos ao longo de todo o percurso. Estipulada
como fase que surge entre 40 e 60 anos de idade, atualmente tem aparecido como “brinde”
mais cedo do que se imagina. Aliás, quantas coisas neste nosso mundo atual deixam
de acontecer em períodos tardios de nossa caminhada e resolvem aparecer com
antecedência? É um acúmulo absurdamente assustador de determinações e pressões.
Você não tem que saber três línguas
além do português se suas condições foram limitadas para tal, se no período em
que você cursava um ensino fundamental e médio em instituições públicas de
ensino você foi obrigado a equilibrar-se com uma atividade trabalhista. Você
não precisa se punir por não ter conquistado a habilitação aos 18, como
previsto e tampouco precisa cortar-se por não ter conseguido adquirir o carro
do ano. Não tem que virar para o espelho e chorando xingar a própria imagem por
ter tido dificuldades em entrar na universidade e por apenas ter ouvido falar
da França e dos Estados Unidos sem ter sequer, pisado nesses locais. Não existe
essa obrigação de preencher devidamente um lattes
diante de uma realidade totalmente divergente dos seus colegas de classe. Você
pode não mais ter os seus avós, seus pais podem ter concluído o 3º grau aos 40
anos de idade e a aquisição do carro ter acontecido dois anos depois disso. Você
pode, ah e como pode, ter aprendido diversas coisas por conta de suas
experiências e não apenas pelo discurso “coxinha” de muitos dos seus docentes
universitários ou aqueles relatos dos seus “amigos” patéticos que não sabem
sequer o significado de periferia.
Caríssimo, não se faz importante
adiantar uma preocupação exacerbada e alterações fortemente influenciadas pelas
emoções se o que você pode fazer agora é simplesmente, VIVER! Caminhar! Correr!
Ouvir uma música e deixar a continuação do artigo para um ou dois minutos
depois. Beijar ou abraçar aquela pessoa que você tem tanto apreço. Ler um livro
literário sem ter que se martirizar com tantas nomenclaturas científicas.
Entenda, o script da vida está programado para os trinta aninhos de idade.
Porém, dentro dessas décadas, muitas coisas acontecem! Muitos caminhos são
percorridos e cada vida se distingue da outra. Impossível é assimilar-se com o
próximo. Mesmo aqueles que nascem gêmeos. Irmãos de criações similares podem
pisar territórios demasiadamente contraditórios. Não queira obrigar-se a fazer
nada de que não goste. Não queira atender às críticas familiares com relação a
filhos, esposa ou marido, diplomas e vivências sem ter tido subsídios para tal
ou ainda vontade real em cumpri-los. Viva a sua idade não a cronometrando. Mas
a experimentando como se fosse sempre nova. Permita-se ganhar um ano de
juventude ao invés de encará-lo como menos uma oportunidade.
Estabeleça sim as suas metas. Construa
seus objetivos e almeje viver realidades diferentes das que você teve mesmo
condições de viver. Se abrigue em um conforto que talvez nunca tenha tido acesso
e deixe para tornar-se fluente nas coisas quando for possível em vários
sentidos. Tudo isso daqui não é uma receita de bolo e nem um eufemismo para
você largar as coisas sérias e esperar que tudo caia do céu. Mas seria uma
sugestão de que a vida existe após os trinta aninhos de idade, que ela pulsa
com dezenas de peculiaridades entre um contexto e outro. Que ela grita por
demandas que nascem diferentemente dentro de cada família, de cada indivíduo,
de cada pensamento.
Programe-se para respirar sem estar ofegante
demais aos sessenta anos de idade, do mesmo modo em que foi capaz de fazer na
infância, na adolescência e na juventude, independente do suporte que recebeu
para isso. Destaque-se em si mesmo. Planeje estar aqui, neste mundo tão
estranhamente gigante e pequenino aos quarenta, cinqüenta, e quem sabe? Aos
setenta anos de idade? Namorando, bebendo um vinho, comprando um carro ou
entrando corajosamente em uma aula de italiano.
Não existem limites para viver.
Saborear este clichê?
Por que não?
P. S. Sem alimentar as generalizações.
Lucas Teles, às 00:20 do dia 02 de julho de 2015.
Lucas Teles, às 00:20 do dia 02 de julho de 2015.
1 comentários
Belo Texto, Lucas!
ResponderExcluirÉ isso mesmo... hoje tenho 26 anos e tenho colegas de 19 na minha sala. E isso não me faz melhor ou pior que ninguém! Atrasarei ainda mais um ano e formarei com quase 30, enquanto muitos formam com 22/23 anos, mas a vida de cada um é diferente... cada um vive da sua maneira e tem as suas dificuldade, não é verdade? E isso não nos faz melhor ou pior que ninguém, apenas diferentes no seu caminhar!
Um grande abraço!