Via Semente - O paradoxo educacional
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Diversos críticos com capacidade cognitiva elevada expandem seus posicionamentos sobre a qualidade das instituições superiores privadas do país. Desde o sistema de vestibular das faculdades até a metodologia de ensino das mesmas, estes posicionamentos são, na maioria das vezes, recheados de ironia, sarcasmo e descaso se comparados a posicionamentos referentes a instituições públicas de ensino.
Há de se considerar que dentro dessas formas de expressão, estão escondidas diversas contradições. Para que parte de um sistema seja criticado com tanto argumento, penso ser importante mexer em tudo, sem deixar lacunas para trás.
A opção de muitos estudantes brasileiros pelas universidades privadas, não são pautadas por completo por “simples escolhas”, “status” ou outra coisa qualquer. São escolhidas pela falta de oportunidade construída em detrimento da escassez de estrutura nos ensinos fundamental e médio, e o ciclo fechado de alunos com alto poder aquisitivo que entram facilmente nas universidades públicas, ocupando vagas daqueles que realmente precisam.
Depois de anos tendo por base um ensino particular com cursos de línguas, vários esportes, e outros benefícios, é quase que obrigação de um estudante do ensino privado ser aprovado em uma universidade pública, geralmente a mais desejada de todas com uma concorrência demasiada alta e difícil de ser enfrentada. Em certos cursos de graduação, ser aprovado torna-se quase que ganhar na loteria tamanha são as exigências de seleção. Em contrapartida, considerando a importância do ensino público pelo governo e seu contexto histórico, é fácil notar a falta de verbas, a falta de um corpo docente capacitado, a falta de estrutura física, a falta de simplesmente um olhar diferenciado que possa acreditar nas pessoas com baixa condição financeira e propiciar a essas pessoas, oportunidades tão elevadas no ensino superior quanto para estudantes oriundos de escolas particulares renomadas. Vale ressaltar que este “olhar” poderia evitar a criação de programas que incitam a discussão calorosa e suas polêmicas nada fáceis.
O que pretendo aqui dizer, é que não adianta somente criticar faculdades particulares sem perceber os verdadeiros motivos, muitas pessoas que nelas são matriculadas, trabalham arduamente para quitarem as altas mensalidades e tem como trajetória um ensino completamente deficiente se comparado ao modelo particular. Sem desconsiderar a capacidade de alunos que estudaram em escolas particulares, a elite preenche grande parte das universidades públicas, o que, certamente, contribui para a ascensão dos nomes das universidades no mercado de trabalho, enfim, para todo o Brasil.
É hipocrisia questionar a qualidade das faculdades particulares ridicularizando direta ou indiretamente seus estudantes, se o sistema educacional no país tem raízes amargas. Não é uma questão de restringir vagas a pessoas que passaram pelo ensino público, não é uma questão de mexer na estrutura dos vestibulares com programas que ajudam na aprovação. Não é questão de proibir a entrada dos ricos nessas instituições ou outras medidas quaisquer na tentativa de camuflar os problemas. Faz-se necessário igualar este ensino porque sabemos, ah como sabemos que a inteligência não é algo exclusivo para aqueles que tiverem acesso fácil a tudo. A inteligência apesar de todos os problemas supracitados, pode ser encontrada em mentes brilhantes que nunca puderam praticar línguas em uma escola importante, que nunca praticaram esportes diferenciados enfim, pode ser descoberta em pessoas que enfrentaram vários obstáculos para concorrerem em pé de igualdade com aqueles que sempre foram contemplados por boas e rebuscadas oportunidades.
Não é lei que universidades particulares sejam ruins enquanto as públicas serão sempre as melhores, é na verdade um paradoxo completamente evidente e injusto que deixa claro:
As pessoas saem de um ensino público caótico nos níveis fundamental e médio e precisam se ingressar em escolas preparatórias para conquistarem uma vaga no ensino público superior que, por incrível que pareça, também é público. Aí as coisas se invertem. A escola pública ruim e sem assistências, e a universidade pública repleta de atrativos, mas limitada a uma parte da sociedade que nem é necessário descreve-la aqui enquanto condição socioeconômica.
Sugiro que essas competições mesquinhas e desagradáveis entre melhores e piores, possam ser substituídas por uma unificação de ensino que impulsione em qualidade eficaz e na posição mais sugestiva do país “Brasil” no quesito Educação perante todo o mundo.
Lucas Teles, 20 de novembro de 2011, às 20h33min.
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