Via Semente - Palavras, cachoeira, montanha.

09:30

Palavras, cachoeira, montanha.

Gusta, Lucas e Paty eram amigos inseparáveis. Cada um enriquecia a amizade tripla à sua maneira. Gusta, o mais calmo dos três, sempre tornava as situações mais pacíficas com suas palavras positivas. Paty, por sua doçura mesclada à coragem, sempre falava o que sentia e ajudava os seus amigos a serem mais ativos em algumas situações. Lucas, por sua preocupação excessiva, tornava-se o mais responsável e contribuía muito com a sua forma de organização.
Porém, apesar das qualidades que tinham os três unidos nesta caminhada, seus defeitos um dia foram tão valiosos, que tornaram parte da caminhada menos densa, menos triste e mais feliz.
Um dia, tomados pelo desejo em subir uma montanha bonita e muito conhecida da cidade, seguiram juntos e felizes cheios de expectativa. Lá eles fariam um sarau e iriam aproveitar o momento para buscarem frutas no pé. E nesta trajetória, os três se depararam com acontecimentos variados...
Cansados de andar e pela força acentuada do sol, Paty deixou escapar algumas gotículas de lágrima. Seu choro silencioso despertou a atenção de Gusta.
- Paty? O que houve?
A caminhada cessou e Paty não conseguiu conter a sua dor. Dentro dela, estava escondido um anseio em parar de caminhar pelo cansaço. Lucas sem saber como lhe dar com aquela dificuldade, resolveu observar a atitude de Gusta que, disposto, disse:
- Paty, olhe aquela montanha! É lá que devemos parar de caminhar. Vença o cansaço e verás como é bom resistir. Estaremos unidos lendo, cantando e buscando a paz das árvores mais bonitas que lá existem. Desistir? Não Paty. O seu coração não quer que isso aconteça.
Gusta abraçou e sinalizou para Lucas simultaneamente. O abraço em trio foi caloroso o bastante para anular as lágrimas que caíam do rosto de Paty.
- Obrigada Gusta!
Ambos continuaram notando o entusiasmo dos pássaros. No meio do caminho... não, não era pedra, mas um som. Um som mais forte que o canto dos pássaros. Somente Paty conseguia ouvir com clareza e possuía dentro de si uma curiosidade gigantesca em saber o que era. Eufórica, Paty disse:
- Vamos! Este som vem dali!
Gusta e Lucas não foram receptivos com a idéia e em uníssono afirmaram que aquilo era mais uma maluquice de Paty. Infelizmente entregaram-se quando perceberam que a amiga ficou cabisbaixa.
Seguiram o som e mal acreditaram no que viram. Naquele calor forte e com a sede incomodando, poderiam se deliciar com as águas cristalinas de uma maravilhosa cachoeira. Beberam, brincaram e tomaram um banho na cachoeira para renovação das energias.
Enfim, seguiram o trajeto agora mais próximo da montanha. Lucas, enrugando a testa em sinal de espanto, observou que havia dois caminhos que estavam totalmente opostos. Paty e Gusta logo opinaram pelo caminho curto que dava a total impressão de estar associado ao destino proposto. Mas o desespero de Lucas fez com que o trio percorresse o caminho mais longo.
- Pessoal aquele caminho estava estranho. Não tinha sombra fresca, não tinha flores. Aqui podemos caminhar mais tranquilamente.
Os outros amigos contentaram-se com o argumento e, instantaneamente perceberam que aquele era o caminho coerente, pois introduzia a beleza imensurável da montanha.
Os três chegaram ao destino absortos de felicidade e passaram o fim da tarde recitando poemas, descobrindo novas belezas, cantando e conversando sobre o que haviam passado.
A noite chegou e ali resolveram ficar. Combinaram de refletir sobre suas dificuldades, sobre os seus desafios e passariam o fim daquele dia admirando a orquestra isenta de sons das estrelas e a lua.
As palavras excessivamente positivas de Gusta que poderiam ser consideradas hipócritas, no início deram forças a um outro amigo que teve o desejo de desistir da caminhada. A possível irresponsabilidade de Paty fez com que todos encontrassem uma cachoeira em um instante muito propício. E o desespero de Lucas, bom, este fez com que chegassem à montanha mais felizes e preparados. Sem a palavra de Gusta, Paty teria ficado e até seus dois amigos poderiam ter desistido de tudo. Sem a maluquice de Paty, poderiam ter passado mal pelo excesso de sol e a falta de água. Sem a ansiedade e desespero de Lucas, cairiam em um vale desmatado por uma antiga mineração e estariam, ao contrário do que Gusta e Paty imaginaram, distantes da montanha.
A amizade é assim, é a união das qualidades e o tempero dos defeitos. Isso é o que nos fortalece. Isso é o que nos faz descobrir mais um do outro e penetrar mais no coração um do outro. Essa é a nossa amizade que, apesar dos buracos, constitui uma bela e perfumada página de nossas vidas. A nossa amizade conecta as nossas histórias antes separadas pelo tempo.
Eu, bom, eu amo vocês!
Lucas Teles, 23 de novembro de 2011 às 01h18min.


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