Via Semente - Claridade ou escuridão?!
21:24
A
claridade do dia foi a minha entrada triunfal no mundo. Dentro de uma família
previamente montada e constituída de muito amor. Cresci bem, vivi uma infância
rica em brincadeiras e, mais do que isso, rica em instruções.
Alguns
pequenos detalhes envolveram-me ao longo dos dias. E alguns anos depois vi dois
pais brigarem por desunião, desentendimento, não mais havia combinação. A
família e sua primeira peça do jogo desmontada.
Agora
“reduzidos”, prosseguíamos a vida dentro de um novo cotidiano. Fotos e
lembranças entravam pelas madrugadas no meu quarto e uma presença ausente não
conseguia me alcançar, de modo que passei a reverberar aventuras perigosas. E
assim o fiz...
Anos
se passando. Nossas infâncias e adolescências cada vez mais distantes.
Buracos largos ocupando espaços e palavras interrompidas a cada
desentendimento. Minhas aventuras chatas clamavam na verdade a falta que me
fazia uma vida feliz, entretanto também tive o desprazer de persistir na
inconsolável imaturidade.
Tudo
muito acumulado. Brigas por riquezas pobres, desacordos desnecessários, brigas
pelo vazio que a casa sustentava e aquela energia densa que por nós perpassava.
O tempo continuou seus galopes assustadores e não teve jeito, outra peça
desmontou-se. Ainda não havia sentido o peso disso, mas logo percebi que muito
piorou aqui dentro.
Minha
existência passou a protagonizar aventuras ainda mais perigosas, adultas e
ousadas. Sem medição de conseqüências guardando confissões, lágrimas e
opiniões. Quem me entendia ali? Onde estavam as duas outras peças que não viam
a última delas aqui comigo sem manejo algum dos fatos.
Eu
e ela, uma briga inacabável. Dia após dia. Peças faltantes tolamente tentando
apaziguar com suas intervenções. E os circos tomados por incêndios grandiosos
demais. Não teve jeito. Desisti de mim mesma, desisti definitivamente de tudo o
que era racional. E parti.
Convenci
a primeira peça do desmontar de todo aquele jogo. A trouxe pra mim ou pelo
menos fui até ela, de modo a me sentir mais confortável e viver aquilo que eu
gostaria de experimentar de mais frouxo e sem regras possível. Deu certo!
Acontece
que aqui, cá com esta peça e ciente das outras duas que vez e outra se
encontram, peças que se separaram determinadas a não se reaproximarem como
antes, eu estou só. Eu me satisfaço erroneamente com essas presenças
momentaneamente calorosas com cenários bonitos, lanches saborosos, luzes
agitadas e pseudoliteraturas. Mas encontro-me perdida e ainda não medi o
retorno que o mundo me dará de presente dentro de alguns segundos que correm naquele relógio.
Até
então durmo e acordo sem notar a falta que os sons do violão e guitarra fazem
para as duas outras peças, mais especificamente uma delas. A falta existente no
simples fato de aprontar a TV com um cabo e apreciar séries e filmes. Eu nada
fiz por tanto tempo, eu nada quis fazer para me ajudar e assim tentar driblar o
sofrimento daquela estranha família. Agora o que posso colher é isso daqui.
Pergunto-me nua, com tatuagem na perna, brincos, colares e piercing na gengiva,
completamente virada para o espelho. Sou mesmo claridade ou escuridão? Cheguei
aqui para algum motivo real? Concreto? Porque embora tenha sido inserida em todo
um longo enredo, é como se nada tivesse sentido. É como se eu tivesse escolhido
as piores companhias, os piores cafés e feito as piores escolhas. Sorte, tanta
abundância de sorte, para nada!
Peças
únicas, poucas se comparadas a outros jogos tão bonitos, embora vivam aí seus
cotidianos. Peça a peça com seu próprio
olhar, seus próprios receios, contextos de descendência que perduraram na nova
geração que agora não quer mais se encontrar. As peças pequeninas dos tempos de
outrora compraram uma briga e nessa mesma vida não irão compartilhar mais nada
daqui pra frente. E o aprendizado? Sabe-se lá quando vai chegar.
Mas
a pergunta era, sou mesmo claridade ou escuridão?
“...
sem data pra voltar”
“...
Ave Maria sei que há, uma história pra sonhar!”
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Às 01h14min
do dia 04 de agosto de 2015
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